Hoje, quero postar uma homenagem que fiz à sala na qual convive os últimos cinco anos da minha vida. A homenagem foi feita na colação de Grau, realizada no Clube da Saudade em Araras, no dia 24/05/2013 tendo início às 19:30. Fui escolhida pela sala a ser a oradora. Aqui segue a mensagem.
Boa noite a todos, primeiro
quero agradecer por me escolherem a ser oradora dessa homenagem à nossa sala. Agradeço
a Adriele por me ajudar a dar o pontapé inicial neste texto. E confesso que o
pediram para fazermos aqui é sacanagem, falar de uma sala na qual convivemos 5
anos, e resumi-la em alguns minutos é tarefa difícil, mas prometo ao menos
TENTAR não chorar, rs.
Quero também aproveitar o
ensejo para pedir desculpas, pois todo texto tem muito do autor, e sei que aqui
tem muito do que senti e da minha visão perante as vivências nessa sala, e não
sei se todo esse conteúdo contemplará os sentimentos e visões de todos vocês
que conviveram comigo, mas tentei ao máximo me aproximar das partilhas que tive
ao longo dos anos com muitos de vocês.
Felizmente e me desculpe à sala
de Sistemas, mas só quem teve o prazer, os sabores e dissabores de ser
matriculado nessa sala, sabe como foram intensos esses 5 anos, e hoje depois de
tantas vivências, nos resta muita saudade, saudade de reviver alguns momentos e
de outros nem queremos lembrar, saudade das aulas que deixamos de prestar
atenção e que hoje fazem falta na prática da nossa profissão, sei que o
percurso de alguns se fez bem pesada, mas sobrevivemos a tudo isso e estamos
aqui, sentimos saudade do espaço físico, mas muito mais dos encontros que se
davam naquele espaço, nos corredores, na clínica, no Aquário, até mesmo nas
salas de supervisões, e podemos pensar até nos desencontros que houveram lá.
Não sei se todos partilham
desse sentimento, mas ao relembrar a nossa sala, vem em mente um trecho da
música do Cartola: Peito Vazio que define bem a falta que ainda me faz a nossa
sala: “Nada consigo fazer quando a
saudade aperta, foge-me a inspiração, sinto a alma deserta...”, (e por aí
vai). Nesse início de ano foi exatamente assim que me senti. Depois de tantos
barulhos coletivos, não sei vocês, mas me sinto como a andorinha que sozinha
não faz verão, mas em alguns momentos precisamos caminhar solitários e assim
nos sentirmos gratos por termos uma bela história/estória para contar.
Vamos RE-lembrar de
algumas cenas que colecionamos dessa nossa sala? Para além das tristezas, esta sala
é um grupo de ex-alunos “quentes” diríamos. Se formos deselegantes, diríamos,
então que fomos “briguentos”. Em nossa formação sem forma, aqui está uma boa
definição para nós? Afinal, que vontade era aquela de expor, falar, contestar.
Dramáticos? Talvez, talvez fosse o efeito da boa forma que nos forma? Se behaviorista...
podemos dizer que temos aqui nesta mesa, e entre os convidados bons modelos
entre os formadores da forma de bons psis. Haviam aulas de formação do humor.. lembram?
Alguém se
lembra do Adenilson com cara de aluno perdido olhando nuvenzinhas durante as
aulas do começo do curso?
Quem se lembra
da Cibele imitando a Camila.. Thalita imitando o Érico em um dia que ele saiu
da sala e foi até clínica pegar “não sei o que”, do Matheus Suspiro nas aulas
da Dri, cenas clássicas que não poderiam faltar neste discurso.
A criatividade
por muito tempo fora nossa maior arma nesta graduação. Até aqui, as marcas são
a tristeza, a criatividade e o humor...
Quem se lembra
da nossa historiada Adriele no primeiro ano, só faltava ter um lugar na mesa
dos professores, contestava tudo e a todos, e não sei vocês, mas por ser nosso
primeiro ano, como alguém poderia saber tudo que ela sabia, rs? Tudo tinha que
ter um PQ para tudo..e as perguntas sempre foram inesgotáveis para ela e depois
de algum tempo para nós também.
Quem se lembra
da Thalita Rodrigues quando ia expor alguma ideia ou até mesmo questionar e
logo soltava “essa questão”...
Quem se lembra
do Gil e aquela palavrinha que aprendemos em uma das aulas mais complexas da História
da Psicologia ministrada pelo Érico, ela a tal da especificidade, sem falar do
amor transferencial pelas aulas da Cristina Lopergólo “A diva”chamada
carinhosamente pelo curso todo de Psicologia.
Quem se lembra
da Jussara na aula da Bia falando que seu nome era para ser Branca de Neve? Imaginam
as brincadeiras feitas por todos nós, Jú?
Quem se lembra
quantas vezes fizemos a Simone Ramalho perder o raciocínio com nossa
inesgotável “fome pelo saber”?
Quem se lembra
da menina que quis falar sobre o Pró-Uni na aula de Políticas Públicas de Saúde
e foi cortada no meio da pergunta? Ops, essa menina sou eu minha gente, e peço
o espaço para que não fique nenhum mal entendido: aquela época a minha
indagação soou como se eu fosse contra, e o que eu quis dizer, é que muitos que
tinham o direito a bolsa, muitas vezes nem sabiam muito se esse era o curso que
queriam fazer, hoje eu sei que isso independe de ter ou não uma bolsa, os
desafios foram os mesmos para todos nós que resistimos a todos os conflitos
internos e externos, a todos os conceitos que muitas vezes ou até hoje ainda
nos rondam, nos questionam, nos roubam os sonhos e o sono, e os sobreviventes
dessa “Nau-dos-loucos estão aqui e estou falando com eles.
Quem se lembra
do espaço cedido na aula da Cris para falarmos da perda irreparável que uma de
nossas companheiras mais engraçadas tivera, e talvez ela seja a mais engraçada da
sala: Dani Carvalho perdera seu querido pai. Agora eu pergunto: Que curso, que
professores, proporcionaria para nós esse momento de sentir a dor do outro? De
elaborar o luto junto com ela?
Quem se lembra
do Melo escolher para expor suas ideias nos últimos minutos para às 23:20? E
todos cansados querendo ir embora, mas ficávamos lá mais um pouco para ao menos
não deixá-lo falando sozinho, rs?
Quem se lembra
da apresentação na aula de Psicologia e Educação da Turma do Chaves pelas
meninas do Grupo XIS?
Quem se lembra
das despedidas dos professores que atenciosamente preparamos para alguns, mesmo
com todas as nossas correrias? Fabiana, Érico, André, o retorno da Adriana
depois de uma cirurgia?
Quem se lembra
da expressão da Marina ao falar em público, ao apresentar um trabalho?
Quem se lembra
das perguntas gigantescas da Verônica, e não sei vocês, mas o raciocínio dela
era tão intelectual que quando ela terminava a questão, eu acabava me perdendo
por ainda estar refletindo o começo dela?
Quem se lembra
da turma do fundão? Chico e Lucas.
Quem se lembra
das risadas da Thaís Viel e da Amanda Furtado nas provas em dupla?
Quem se lembra
de uma outra dupla inseparável, Bruna Batelochi e Nathália Leite?
Quem não
lembra do grupo da Lígia, a menina mais nova da sala e mais faladeira por
sinal?
Quem se lembra
do Vini e suas questões polêmicas, mas sempre com muita propriedade?
Quem se lembra
da Aline, aquela menina alta que sentava perto da porta e que desistiu do
curso? Quem se lembra da Jeniffer, quando o Marquinho mandava um “exú caveira” para
que ela ficasse quieta?
Quem se lembra
da Rose e sua fala marcada, “Ôh belezinha”?
Quem se lembra
da Pipoca, com seus abraços grátis?
Quem se lembra
dos Saraus?
Quem se lembra
da Ciranda do quarto ano?
Quem se lembra
das Festas Juninas na casa do Melo, ou qualquer outra festa?
Quem se lembra
da crise do quarto ano, até a crise vivemos coletivamente.
Quem se lembra
dos espaços que os professores nos deram para que pudéssemos refletir tudo que
estava nos acontecendo. Será mesmo que fomos uma turma diferente? Não sei, pode
ser..mas fomos uma sala que soubemos viver em grupo, soubemos trabalhar em
grupo, soubemos respeitar as diferenças, crescemos juntos, choramos juntos,
brigamos juntos, reivindicamos o que era nosso por direito, batemos boca entre
nós mesmos, discordarmos uns dos outros, erramos e soubemos nos redimir,
soubemos usar da “escuta”, e hoje estamos aqui juntos, talvez no último evento
que nos liga a Instituição na qual estudamos, mas nem por isso vamos deixar de ser
a Turma XIS ou a X turma de Psicologia
da Uniararas.
Quem se lembra
dos alunos que desistiram ou que mudaram de curso, e os transferiram-se para
outras Universidades? Lembram da Patrícia que tinha o cabelo preto e sentava
perto da Talita Curtolo. A Marcela que sentava na fileira do meio ela era
enfermeira no Sayão? A Fernanda Semensato que perdera a bolsa e não pôde arcar
com as despesas? A Elecir que conseguiu bolsa 100% em outra Universidade. O
Pedro que sentava no fundão com a Verônica e a Driele. A Marina loira que mudou
de curso? A Paula de Iracemápolis? A Milena que engravidou e trancou o curso? A
Maria que também mudou de curso? A Danona que também transferiu o curso. Tantas
pessoas passaram pela nossa sala, conhecemos tantas pessoas.. e elas não
poderiam ser esquecidas, não nesse momento... e tantas pessoas que não foram
mencionadas e que sei que alguém se lembra.
São tantas
lembranças, gostaria de ter podido estar com cada grupo que fizemos no ventre
do maior grupo que foi nossa sala, mas dentre tantos textos para ler, tanto
conteúdo para digerir, ainda encontramos muitos momentos para estar juntos... e
que pena que não foi possível saber de todas “as cenas produzidas” para
acrescentar esse texto, e quem sabe ainda não possamos dividir isso nas festas
futuras..
Quem se lembra
dos “tchus tchus” que já fizemos ao comemorarmos?? Acho que hoje merecemos um
"tchu tchu" coletivo, concordam?
Quero
aproveitar para lembrar da Sher que está lá no Maranhão, e pelas manifestações
que fizemos nas redes sociais, sabemos o quanto ela gostaria de estar aqui e
não pôde por forças maiores. Saiba Sher, que você se faz presente em nós, e
parte dessa história também é sua, é nossa.
Nestes 5
anos... tivemos muitas perdas, perdas de identidade, perdas de memórias, perda
de noites bem dormidas, perda de roupas (pq emagrecemos ou engordamos), perda
de valores, e talvez uma das maiores perdas,
perdemos entes queridos e vimos isso de perto... de pessoas que estavam tão próximas.
Sei que não
foi só a Dani que perdeu um ente querido, lembro de algumas pessoas nesse
percurso: o pai da Jél, a mãe da Alice, a mãe da Rose, o irmão da Mayra, a vó
da Camis, e tantos outros que eu não tive o conhecimento, perdemos tantas
“coisas”, perdemos tantas “pessoas”, mas que bom que não nos perdemos. E não
sei vocês, mas não vejo só perdas nesse caminho... ganhamos muito também,
ganhamos palavras doces, sorrisos que foram bálsamo nos dias difíceis, ganhamos
abraços que nos curaram, ganhamos ombros, mãos, afagos, ganhamos olhares, ganhamos silêncios necessários para o
amadurecimento, mas isso só faz sentido quando caminhamos juntos, quando passamos
olhar o nosso sofrimento de uma forma mais ampla, menos fragmentada, quando damos
espaço para os encontros se darem, e em nossa sala mesmo diante das dicotomias
existentes no singular de cada um, soubemos ser NÓS, tanto na terceira pessoa
do plural, quanto nos emaranhamentos desses anos todos, e a colcha de retalhos
que costuramos juntos não é linda? É colorida, repleta de boas energias, tem
preto, tem branco, tem azul, tem verde, tem roxo, tantas cores... tantas dores,
alegrias, tem o humano de cada um, tem os opostos, tem vida minha gente. Dessa
luta toda, saímos ainda mais vivos ou será que ainda estamos anestesiados? Não
sei, mas sei que cada um consegue responder para si essa pergunta.
Pesquisando
uma frase que coubesse nesse instante, encontrei, mas não encontrei as referências
dela, professores vamos pular a parte das Normas da ABNT, afinal esse é só um
texto escrito sem fonte Times ou Arial, sem tamanho 12, sem os espaçamentos
necessários, sem epígrafes, sem introdução, sem meio e sem fim...talvez seja
necessário deixar essas regras de lado, quando falamos de assuntos que nos
tocam o coração e a alma.
Aqui está a
frase: “Dizem que se a saudade não vai embora, é que o amor decidiu ficar.”
Então, meus
queridos, isso explica tudo, ele chegou pra ficar...o amor minha gente, é o
amor... e sei que existem várias formas de amor e penso que cultivamos ele
durante 5 anos, e que possamos cultivá-lo ainda mais a partir de agora, mesmo
fora daquelas paredes que possamos levar o amor dentro e fora da gente, e que seja
infinito enquanto dure, e pelas minhas contas, pelo tanto de experiência que
passamos juntos, matematicamente falando, esse tal de amor sobreviverá nas
próximas 4 gerações.
Diante dessa data
especial, das homenagens, e desta “despedida” quero fazer a última reflexão com
vocês, e imagino que estamos estourando o tempo, mas agora está
acabando...Espero que estas não sejam só palavras jogadas ao vento! Espero que
nosso brilho interior seja maior que o brilho de nossos vestidos, sapatos e
acessórios dessas duas noites, que os conceitos que aprendemos na sala de aula
não sejam jamais esquecidos, que o respeito pela diferença seja algo para
lutarmos todos os dias, que a cor da sua pele, continue sendo só a cor da sua
pele, e que isso não te faça maior nem menor do que a pessoa que está ao seu
lado, que todo nosso conhecimento não seja usado jamais para oprimir ou
denegrir ninguém, fomos educados e temos um diferencial e que possamos usar
isso em favor dos que precisam de nós, como humanos e como profissionais que
agora somos. E que nossos pais, amigos, cônjuges, namorados , namoradas e
nossos pacientes também não se esqueçam de nos olhar além da Psicologia, que
eles não esqueçam que também somos humanos, que não é que pq podemos orientar e
trazer sentidos à vida de outras pessoas que as nossas vidas também não
precisam vez em quando de cuidados.
É
isso meus queridos, obrigada pelo prazer de dividir esses anos com vocês!!!!