quarta-feira, 29 de maio de 2013

Final de um ciclo... Homenagem à sala "X" de Psicologia da Uniararas 2012.



Hoje, quero postar uma homenagem que fiz à sala na qual convive os últimos cinco anos da minha vida. A homenagem foi feita na colação de Grau, realizada no Clube da Saudade em Araras, no dia 24/05/2013 tendo início às 19:30. Fui escolhida pela sala a ser a oradora. Aqui segue a mensagem.
Boa noite a todos, primeiro quero agradecer por me escolherem a ser oradora dessa homenagem à nossa sala. Agradeço a Adriele por me ajudar a dar o pontapé inicial neste texto. E confesso que o pediram para fazermos aqui é sacanagem, falar de uma sala na qual convivemos 5 anos, e resumi-la em alguns minutos é tarefa difícil, mas prometo ao menos TENTAR não chorar, rs.
Quero também aproveitar o ensejo para pedir desculpas, pois todo texto tem muito do autor, e sei que aqui tem muito do que senti e da minha visão perante as vivências nessa sala, e não sei se todo esse conteúdo contemplará os sentimentos e visões de todos vocês que conviveram comigo, mas tentei ao máximo me aproximar das partilhas que tive ao longo dos anos com muitos de vocês.
Felizmente e me desculpe à sala de Sistemas, mas só quem teve o prazer, os sabores e dissabores de ser matriculado nessa sala, sabe como foram intensos esses 5 anos, e hoje depois de tantas vivências, nos resta muita saudade, saudade de reviver alguns momentos e de outros nem queremos lembrar, saudade das aulas que deixamos de prestar atenção e que hoje fazem falta na prática da nossa profissão, sei que o percurso de alguns se fez bem pesada, mas sobrevivemos a tudo isso e estamos aqui, sentimos saudade do espaço físico, mas muito mais dos encontros que se davam naquele espaço, nos corredores, na clínica, no Aquário, até mesmo nas salas de supervisões, e podemos pensar até nos desencontros que houveram lá.
Não sei se todos partilham desse sentimento, mas ao relembrar a nossa sala, vem em mente um trecho da música do Cartola: Peito Vazio que define bem a falta que ainda me faz a nossa sala: “Nada consigo fazer quando a saudade aperta, foge-me a inspiração, sinto a alma deserta...”, (e por aí vai). Nesse início de ano foi exatamente assim que me senti. Depois de tantos barulhos coletivos, não sei vocês, mas me sinto como a andorinha que sozinha não faz verão, mas em alguns momentos precisamos caminhar solitários e assim nos sentirmos gratos por termos uma bela história/estória para contar.             
  Vamos RE-lembrar de algumas cenas que colecionamos dessa nossa sala? Para além das tristezas, esta sala é um grupo de ex-alunos “quentes” diríamos. Se formos deselegantes, diríamos, então que fomos “briguentos”. Em nossa formação sem forma, aqui está uma boa definição para nós? Afinal, que vontade era aquela de expor, falar, contestar. Dramáticos? Talvez, talvez fosse o efeito da boa forma que nos forma? Se behaviorista... podemos dizer que temos aqui nesta mesa, e entre os convidados bons modelos entre os formadores da forma de bons psis. Haviam aulas de formação do humor.. lembram?
Alguém se lembra do Adenilson com cara de aluno perdido olhando nuvenzinhas durante as aulas do começo do curso?
Quem se lembra da Cibele imitando a Camila.. Thalita imitando o Érico em um dia que ele saiu da sala e foi até clínica pegar “não sei o que”, do Matheus Suspiro nas aulas da Dri, cenas clássicas que não poderiam faltar neste discurso.
A criatividade por muito tempo fora nossa maior arma nesta graduação. Até aqui, as marcas são a tristeza, a criatividade e o humor...
Quem se lembra da nossa historiada Adriele no primeiro ano, só faltava ter um lugar na mesa dos professores, contestava tudo e a todos, e não sei vocês, mas por ser nosso primeiro ano, como alguém poderia saber tudo que ela sabia, rs? Tudo tinha que ter um PQ para tudo..e as perguntas sempre foram inesgotáveis para ela e depois de algum tempo para nós também.
Quem se lembra da Thalita Rodrigues quando ia expor alguma ideia ou até mesmo questionar e logo soltava “essa questão”...
Quem se lembra do Gil e aquela palavrinha que aprendemos em uma das aulas mais complexas da História da Psicologia ministrada pelo Érico, ela a tal da especificidade, sem falar do amor transferencial pelas aulas da Cristina Lopergólo “A diva”chamada carinhosamente pelo curso todo de Psicologia.
Quem se lembra da Jussara na aula da Bia falando que seu nome era para ser Branca de Neve? Imaginam as brincadeiras feitas por todos nós, Jú?
Quem se lembra quantas vezes fizemos a Simone Ramalho perder o raciocínio com nossa inesgotável “fome pelo saber”?
Quem se lembra da menina que quis falar sobre o Pró-Uni na aula de Políticas Públicas de Saúde e foi cortada no meio da pergunta? Ops, essa menina sou eu minha gente, e peço o espaço para que não fique nenhum mal entendido: aquela época a minha indagação soou como se eu fosse contra, e o que eu quis dizer, é que muitos que tinham o direito a bolsa, muitas vezes nem sabiam muito se esse era o curso que queriam fazer, hoje eu sei que isso independe de ter ou não uma bolsa, os desafios foram os mesmos para todos nós que resistimos a todos os conflitos internos e externos, a todos os conceitos que muitas vezes ou até hoje ainda nos rondam, nos questionam, nos roubam os sonhos e o sono, e os sobreviventes dessa “Nau-dos-loucos estão aqui e estou falando com eles.
Quem se lembra do espaço cedido na aula da Cris para falarmos da perda irreparável que uma de nossas companheiras mais engraçadas tivera, e talvez ela seja a mais engraçada da sala: Dani Carvalho perdera seu querido pai. Agora eu pergunto: Que curso, que professores, proporcionaria para nós esse momento de sentir a dor do outro? De elaborar o luto junto com ela?
Quem se lembra do Melo escolher para expor suas ideias nos últimos minutos para às 23:20? E todos cansados querendo ir embora, mas ficávamos lá mais um pouco para ao menos não deixá-lo falando sozinho, rs?
Quem se lembra da apresentação na aula de Psicologia e Educação da Turma do Chaves pelas meninas do Grupo XIS?
Quem se lembra das despedidas dos professores que atenciosamente preparamos para alguns, mesmo com todas as nossas correrias? Fabiana, Érico, André, o retorno da Adriana depois de uma cirurgia?
Quem se lembra da expressão da Marina ao falar em público, ao apresentar um trabalho?
Quem se lembra das perguntas gigantescas da Verônica, e não sei vocês, mas o raciocínio dela era tão intelectual que quando ela terminava a questão, eu acabava me perdendo por ainda estar refletindo o começo dela?
Quem se lembra da turma do fundão? Chico e Lucas.
Quem se lembra das risadas da Thaís Viel e da Amanda Furtado nas provas em dupla?
Quem se lembra de uma outra dupla inseparável, Bruna Batelochi e Nathália Leite?
Quem não lembra do grupo da Lígia, a menina mais nova da sala e mais faladeira por sinal?
Quem se lembra do Vini e suas questões polêmicas, mas sempre com muita propriedade?
Quem se lembra da Aline, aquela menina alta que sentava perto da porta e que desistiu do curso? Quem se lembra da Jeniffer, quando o Marquinho mandava um “exú caveira” para que ela ficasse quieta?
Quem se lembra da Rose e sua fala marcada, “Ôh belezinha”?
Quem se lembra da Pipoca, com seus abraços grátis?
Quem se lembra dos Saraus?
Quem se lembra da Ciranda do quarto ano?
Quem se lembra das Festas Juninas na casa do Melo, ou qualquer outra festa?
Quem se lembra da crise do quarto ano, até a crise vivemos coletivamente.
Quem se lembra dos espaços que os professores nos deram para que pudéssemos refletir tudo que estava nos acontecendo. Será mesmo que fomos uma turma diferente? Não sei, pode ser..mas fomos uma sala que soubemos viver em grupo, soubemos trabalhar em grupo, soubemos respeitar as diferenças, crescemos juntos, choramos juntos, brigamos juntos, reivindicamos o que era nosso por direito, batemos boca entre nós mesmos, discordarmos uns dos outros, erramos e soubemos nos redimir, soubemos usar da “escuta”, e hoje estamos aqui juntos, talvez no último evento que nos liga a Instituição na qual estudamos, mas nem por isso vamos deixar de ser a  Turma XIS ou a X turma de Psicologia da Uniararas.
Quem se lembra dos alunos que desistiram ou que mudaram de curso, e os transferiram-se para outras Universidades? Lembram da Patrícia que tinha o cabelo preto e sentava perto da Talita Curtolo. A Marcela que sentava na fileira do meio ela era enfermeira no Sayão? A Fernanda Semensato que perdera a bolsa e não pôde arcar com as despesas? A Elecir que conseguiu bolsa 100% em outra Universidade. O Pedro que sentava no fundão com a Verônica e a Driele. A Marina loira que mudou de curso? A Paula de Iracemápolis? A Milena que engravidou e trancou o curso? A Maria que também mudou de curso? A Danona que também transferiu o curso. Tantas pessoas passaram pela nossa sala, conhecemos tantas pessoas.. e elas não poderiam ser esquecidas, não nesse momento... e tantas pessoas que não foram mencionadas e que sei que alguém se lembra.
São tantas lembranças, gostaria de ter podido estar com cada grupo que fizemos no ventre do maior grupo que foi nossa sala, mas dentre tantos textos para ler, tanto conteúdo para digerir, ainda encontramos muitos momentos para estar juntos... e que pena que não foi possível saber de todas “as cenas produzidas” para acrescentar esse texto, e quem sabe ainda não possamos dividir isso nas festas futuras..
Quem se lembra dos “tchus tchus” que já fizemos ao comemorarmos?? Acho que hoje merecemos um "tchu tchu" coletivo, concordam?
Quero aproveitar para lembrar da Sher que está lá no Maranhão, e pelas manifestações que fizemos nas redes sociais, sabemos o quanto ela gostaria de estar aqui e não pôde por forças maiores. Saiba Sher, que você se faz presente em nós, e parte dessa história também é sua, é nossa.
Nestes 5 anos... tivemos muitas perdas, perdas de identidade, perdas de memórias, perda de noites bem dormidas, perda de roupas (pq emagrecemos ou engordamos), perda de valores,  e talvez uma das maiores perdas, perdemos entes queridos e vimos isso de perto... de  pessoas que estavam tão próximas.
Sei que não foi só a Dani que perdeu um ente querido, lembro de algumas pessoas nesse percurso: o pai da Jél, a mãe da Alice, a mãe da Rose, o irmão da Mayra, a vó da Camis, e tantos outros que eu não tive o conhecimento, perdemos tantas “coisas”, perdemos tantas “pessoas”, mas que bom que não nos perdemos. E não sei vocês, mas não vejo só perdas nesse caminho... ganhamos muito também, ganhamos palavras doces, sorrisos que foram bálsamo nos dias difíceis, ganhamos abraços que nos curaram, ganhamos ombros, mãos, afagos, ganhamos olhares,  ganhamos silêncios necessários para o amadurecimento, mas isso só faz sentido quando caminhamos juntos, quando passamos olhar o nosso sofrimento de uma forma mais ampla, menos fragmentada, quando damos espaço para os encontros se darem, e em nossa sala mesmo diante das dicotomias existentes no singular de cada um, soubemos ser NÓS, tanto na terceira pessoa do plural, quanto nos emaranhamentos desses anos todos, e a colcha de retalhos que costuramos juntos não é linda? É colorida, repleta de boas energias, tem preto, tem branco, tem azul, tem verde, tem roxo, tantas cores... tantas dores, alegrias, tem o humano de cada um, tem os opostos, tem vida minha gente. Dessa luta toda, saímos ainda mais vivos ou será que ainda estamos anestesiados? Não sei, mas sei que cada um consegue responder para si essa pergunta.
Pesquisando uma frase que coubesse nesse instante, encontrei, mas não encontrei as referências dela, professores vamos pular a parte das Normas da ABNT, afinal esse é só um texto escrito sem fonte Times ou Arial, sem tamanho 12, sem os espaçamentos necessários, sem epígrafes, sem introdução, sem meio e sem fim...talvez seja necessário deixar essas regras de lado, quando falamos de assuntos que nos tocam o coração e a alma.
Aqui está a frase: “Dizem que se a saudade não vai embora, é que o amor decidiu ficar.”
Então, meus queridos, isso explica tudo, ele chegou pra ficar...o amor minha gente, é o amor... e sei que existem várias formas de amor e penso que cultivamos ele durante 5 anos, e que possamos cultivá-lo ainda mais a partir de agora, mesmo fora daquelas paredes que possamos levar o amor dentro e fora da gente, e que seja infinito enquanto dure, e pelas minhas contas, pelo tanto de experiência que passamos juntos, matematicamente falando, esse tal de amor sobreviverá nas próximas 4 gerações.
Diante dessa data especial, das homenagens, e desta “despedida” quero fazer a última reflexão com vocês, e imagino que estamos estourando o tempo, mas agora está acabando...Espero que estas não sejam só palavras jogadas ao vento! Espero que nosso brilho interior seja maior que o brilho de nossos vestidos, sapatos e acessórios dessas duas noites, que os conceitos que aprendemos na sala de aula não sejam jamais esquecidos, que o respeito pela diferença seja algo para lutarmos todos os dias, que a cor da sua pele, continue sendo só a cor da sua pele, e que isso não te faça maior nem menor do que a pessoa que está ao seu lado, que todo nosso conhecimento não seja usado jamais para oprimir ou denegrir ninguém, fomos educados e temos um diferencial e que possamos usar isso em favor dos que precisam de nós, como humanos e como profissionais que agora somos. E que nossos pais, amigos, cônjuges, namorados , namoradas e nossos pacientes também não se esqueçam de nos olhar além da Psicologia, que eles não esqueçam que também somos humanos, que não é que pq podemos orientar e trazer sentidos à vida de outras pessoas que as nossas vidas também não precisam vez em quando de cuidados.
          É isso meus queridos, obrigada pelo prazer de dividir esses anos com vocês!!!!